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sexta-feira, dezembro 03, 2004

Acabou o (des)governo... Regressa dentro de momentos...
Ou, A grande palhaçada.




Bruxelas, 3 de Dezembro de 2004


Querido Pai Natal,

Preciso de te fazer um pedido complicado. Não é um capricho, é uma necessidade. Eu (e já agora, mais 10 a 15 milhões de portugueses espalhados pelo mundo!) portei-me mais ou menos bem durante o ano, e penso que mereço o que te vou pedir a seguir, mesmo se sei que é difícil...

Peço-te uma ajuda para encontrar um governo decente para Portugal. Por favor encontra alguém, algures, que seja capaz de ganhar eleições, formar um governo competente e determinado, capaz de levar para a frente as reformas necessárias a que o meu país se torne mais justo, mais solidário, e também mais rico e eficiente. Um governo capaz de preparar o meu país para o futuro, oferecendo uma educação de primeira qualidade, emprego, ajuda aos que menos podem, sem desperdícios... Um governo mais leve, livre de cunhas e de compadrios, amigo do investimento mas também dos pobres. Um governo com ministros motivados não pelo seu próprio umbigo, mas por um espírito de serviço pelo bem da maioria dos cidadãos.

Não sei se, na azáfama das preparações de Natal tens tido tempo de ler o Público, mas a situação política em Portugal complicou-se muito desde a última carta que te escrevi. A coisa já não andava bem. Como tu sabes a política portuguesa nos últimos anos parece um circo, gerido e povoado apenas por palhaços! Mas a palhaçada apimentou-se nos últimos dias.

Pois é, o cenourinha de Belém lá mostrou que ele não é (ou cansou-se de ser) um palhaço e anunciou o fim da palhaçada. Por uns minutos...
Pôs os palhaços dois ou três dias de molho. Mas eu penso que a palhaçada vai regressar em breve. Na mesma cor certamente que não, mas em tons mais vermelhos.

O Sr. Sócrates, para mostrar como é um sério candidato a primeiro-palhaço entrou ontem para a conferência de imprensa acompanhado pelos melhores palhaços dos tempos do primeiro-palhaço Guterres. Desde o palhaço Cravinho ao palhaço Arons, o palhaço D. Sebastião (Vitorino), e mais outro. Ao todo 5 palhaços. Ninguém de sério ao seu lado.

Pior, só mesmo do lado dos palhaços laranja coligados. O primeiro-palhaço laranja lá diz que há de continuar a ser primeiro-palhaço... Será que não é capaz de se ver ao espelho, e ver a figura de... palhaço... que fez durante 4 meses? E quando chega a hora de palhaçada laranja, há um que nunca falta: o super-palhaço Jardim que até disse que está disposto, "a partir de agora", a ir para Lisboa "meter o país na ordem". Imaginas? Não há ninguém que o meta a ele na ordem, há de ser ele capaz de pôr alguém ou alguma coisa na ordem?

O primeiro-palhaço-adjunto-azul, a cujo humor tu sabes que eu sou particularmente alérgico, também já apareceu a dizer que quer fazer palhaçadas sozinho, mas quer sobretudo manter-se no circo dos grandes. Sem comentários.


Se a escolha for entre estas duas corporações de palhaços, a minha
escolha está feita, a confirmar com os programas de cada corporação
para a grande palhaçada de eleição de Fevereiro. Mal por mal, que venham os vermelhos. Mas é apenas e tão só uma escolha de mal menor. Que fique também claro: não creio que sejam capazes de pôr ordem no circo!
Não se esqueçam do primeiro-palhaço Guterres, foi apenas ontem.
Mas pelo menos não podem fazer pior do que os palhaços do momento.

Tiveste tempo de ler o relatório de hoje do Eurostat? Mais uma prova, se prova era preciso, da palhaçada contínua... Desde 1995 até 2003, os portugueses estão, economicamente “na mesma”. O PIB por habitante, em relação à média europeia não mudou. Estamos na mesma? Não, estamos muito pior!
Entre 1995 (curiosamente o ano em que Cavaco Silva saiu do governo) e 2003, tivemos 1 e meio (des)governo Guterres, meio (des)governo de Durão e 4 meses de desgoverno completo de Santana. Embora pareça que estamos na mesma, não estamos, estamos MUITO pior! Por quê? Porque perdemos quase uma década de oportunidades de nos modernizarmos! E porque desperdiçamos os presentes de Natal que a Europa nos enviava todo o ano, sob a forma de fundos europeus, prendas que deviam servir, entre outras coisas, para diminuir a nossa diferença em relação à Europa civilizada. Presentes que os desgovernos sucessivos provaram não merecerem e que, de qualquer forma, serão reduzidos dentro em breve.
Parafraseando Caetano, que sei que também aprecias: não é isto "o avesso do avesso do avesso do avesso"?

Caro Pai Natal, coloco-te esta pergunta: por que razão subtil é que, com tantos tantos tantos tantos tantos tantos palhaços, ninguém, mas mesmo
NINGUÉM em Portugal, tem vontade de rir? Onde está o "alto astral" prometido pelo primeiro-palhaço laranja? Por que é que todos os portugueses estão mais próximos do desespero e da vontade de chorar do que do um (simples) sorriso amarelo?

A minha tentativa de resposta é a seguinte: porque falta realmente
alguém de competente, um mestre de circo! O recreio tem que acabar.
Agora. Alguém tem que soar o FIM DA PALHAÇADA. Chegou a hora de
governar, de acabar com o desgoverno. Precisamos de uma verdadeira escolha, ou então teremos apenas uma grande palhaçada de eleição em Fevereiro.

Com a aproximação do Natal não deves ter tempo para ler os blogs, mas quero dizer-te que não concordo com Pacheco Pereira quando diz que tanto o Santana como o Sócrates são duas faces da mesma má moeda... Mas acho que são duas moedas más diferentes. Uma (Sócrates) talvez (não tenho a certeza, é um "acto de fé") menos má do que a outra. Mas usando a mesma imagem, falta a boa moeda, uma verdadeira escolha. Escolher, nos termos em que as coisas estão hoje, não é possível.

A minha vontade não é difícil de adivinhar: acabem com o actual palhaço-mor-laranja, e ponham no seu lugar um verdadeiro mestre de circo com provas dadas.
Numa espécie de D. Sebastianismo de que tanto me acusas Pai Natal, penso a um em particular: Aníbal Cavaco Silva. Acredito que ele é capaz de pôr fim às palhaçadas, domar as feras e rodear-se de pessoas competentes, capazes de governar Portugal! Como o próprio escreveu este fim-de-semana no Expresso: "Por interesse próprio e por dever patriótico cabe às elites profissionais contribuírem para que na vida partidária portuguesa os políticos competentes possam afastar os incompetentes."

A hora é grave, e o dever patriótico chama. Porém é-me muito difícil pedir a alguém que já deu 10 anos da sua vida ao governo do país como primeiro-ministro (mais uns anos como ministro), para dar mais 4, ou mais 8, mas é isso que eu gostaria de pedir: Prof. Cavaco Silva, este cidadão pede-lhe que se candidate não a Belém - onde estou certo que faria um bom presidente - mas a São Bento - onde estou mais certo ainda que fará um excelente primeiro ministro. Além disso, terei muito interesse em ler o terceiro e quarto volume da sua biografia política! Biografia política que, no caso de ir para Belém, temo que venha a ser bem menos interessante do que se regressar a S. Bento.
Porém compreendo que ele não queira aceitar este desafio que é ao mesmo tempo um sacrifício.


Na indisponibilidade de Cavaco Silva, outro quadro competente do PSD, capaz de formar governo fora do seu grupo de amigos íntimos (como isso contribuiu para a palhaçada Santanista!) permitirá pelo menos uma escolha nas próximas eleições, que deixam então de ser uma palhaçada, para serem verdadeiras eleições. Penso a vários candidatos e candidatas. Um (será fruto de intervenção tua, pai Natal?) já se disse pronto, António Borges.

Caro Pai Natal, se não surgir uma alternativa credível, temo que, a prazo, reste apenas uma opção para todos aqueles que não o fizeram ainda: emigrar!

Pai Natal, por favor ocupa-te deste circo a que chamam Portugal.

Muito obrigado, transmite os meus cumprimentos às renas.
Se precisares de mim, sabes onde me encontrar!

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